sexta-feira, janeiro 29


A cidade está deserta.

E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:

Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas...

Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura.

Ora amarga! Ora doce!

Para nos lembrar que o amor é uma doença

Quando nele julgamos ver a nossa cura.

quinta-feira, dezembro 31

Closer


"Sometimes a man gets carried away,
When he feels like he should be having his fun
Much too blind to see the damage he's done
Sometimes a man must awake to find that, really,
He has no-one...”



Na noite, que é só minha, volta a tortura de nossos estilhaços, farto de juras e promessas, caídos sobre lençóis, tectos e paredes onde jamais voltaremos a ser nós.

Ainda não é tempo do pranto.

Brindemos, J.!... à compilação do que fomos, do que nunca seremos… à ilusão do que acreditamos ter sido.
Ninguém nos poderá escrever: o papel está gasto, a tinta derramou em outros contos. Em nenhuma página nos encontraremos

Meu amor, meu cobarde, perpétuo traidor...
Meu eterno amado no efémero esquecimento do ódio que escorro por ti.

“O que amamos está condenado a morrer. E, no entanto, continuamos como se não o soubéssemos.”

domingo, junho 28

Orgulho


Espreitava em seus olhos uma lágrima,

e em meus lábios uma frase a perdoar;

falou o orgulho, o seu pranto secou,

senti nos lábios essa frase expirar.

Eu vou por um caminho, ela por outro;

mas, ao pensar no amor que nos prendeu,

digo ainda: porque me calei aquele dia?

E ela dirá: porque não chorei eu?

quinta-feira, junho 4

Já não arde!


E os frutos que encontro ou colho apodrecem-me nos dedos.

E junto ao tronco não sinto o baloiçar das folhas, caídas que já estão.

E quando alcanço a praia batida pelo sol de fim de tarde, o mar já me roubou a areia, no momento em que eu poderia possuí-la.


E não há salpico de luz que me toque a sombra.


É a chama que já não arde – insuportáveis tornam-se as utopias de olhos fechados e cabelos à lua.

domingo, maio 31

Aquele dia...



Prostrada, indefesa, odiosa fiquei eu naquele dia. São máculas que ficam para sempre na nossa eterna vivência.


Vem-me aos olhos os crisântemos que vestiam... aquele dia.

Era de fundo o choro em surdina.

Olhares de espanto, medo e dor. Não havia nada para dizer.

Foram lentos os minutos quando chegou aquele instante...

Cruel,

absoluto,

definitivo.

O derradeiro momento.

Desde então odeio crisântemos.

Vão balões...



Vago, indecifrável… assim és.

Tu não vens dos pontos cardeais.

Não és de se tocar.

Tenho-te frágil, preso por uma imagem.

Depois desapareces...
Como balões de criança em dias de festa.

terça-feira, maio 19

Esquecimento


Hoje apercebi-me de uma coisa: que tudo isto é vão.
Uma ilusão suportada pelas labaredas da alma.
Louca de mim não ter percebido isto antes.

Soltar verde a palavra pelo impulso da paixão é de tal inconsciência, que hoje me condeno.
E não é a guerra que agora me provocas que me faz lembrar-te vivamente, nem o meu amor, pois este, talvez, nem exista. É sim, o teu esquecimento. Ele é que te evoca em tais horas e me prende em momentos como estes. O teu esquecimento.

Fui só e apenas mais uma carta do teu vasto e variado baralho.
E não é isso que me magoa, hoje nada me magoa…
Só alimenta o luto que guardo de ti.
E, espero, já esquecida...


... que fique por aqui.

sexta-feira, maio 8

Indefinição



Aparência,

transparência,

um pensamento e alguém.


Vozes do dia,

murmúrios da noite.


Passos

apressados

sem saber ninguém.

sábado, maio 2

'Autumn Leaves'


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

terça-feira, abril 28

'Let me out'


As últimas lágrimas já secaram, o ódio alastra-se em passados movediços…
Esqueço o que de ti me afasta – por momentos – e estendo-me por ti em todo o eu, ainda que trémula entre o baço de tua alma incógnita.

O tempo não encerra em expectativa que a tua boca desperte.
Moderam-se limites do “nosso” impossível na descoberta do perdão inesperado.
Renovam-se promessas no sacrifício de [meus] sentimentos [in]confessados, constantemente renovados, em mim, quando do passado fica o aroma de um sorriso pleno.
Persisto, instantes, em não desistir na tua absoluta e calada desistência.

Paro – sistemática e irremediavelmente –, a minha derrota.

Depois, apetece-me fugir a tudo.

Memórias...


Dentro de mim um caminho, [quase] impossível, traçado em linhas sinuosas que não vejo – onde a luz nem se adivinha.

Recordo o teu cheiro – o que de ti ficou-me -, guardo-o em pequenas doses…
Tenho-te por capricho – menina mimada – ainda que descosida de ti.
Hesito sempre que Something se insinua, voz de uma consciência em chamas.

Até quando poderei resistir à vingança do tempo?!