sábado, setembro 27

Outono


Folhas caídas sobre o plano [oprimido].
Queimadas, cor de fogo… são gritos!

Possuis-me em cada texto que te deixo, mas hoje, as palavras que aqui te lanço levam a minha mão a dizer-te adeus.
Mudou o som do silêncio!
Já não estás aí…
Já não és…
Ou nunca foste, aquele que nos meus devaneios criei.
Perdi o norte...
A estrada e o beco… e o vento sul…
É-me impossível unir estes vértices, a pele rasga-se.

Cheira a mar. Pensamentos de sal [livres na ilusão, vazios na lógica] … o vento sopra, levando areias do meu caminho.
Ah! quem me dera outras estradas. Mudar de chão. Mas não posso ir onde não me chamam.
Fico, mas não espero.

As luzes invadem o meu quarto, espreitam da rua, curiosas…
Fecho as cortinas!
A luz baixa.
Abafo uns desesperos mudos: adiado o ímpeto das minhas asas!
Ouço o caminhar sobre as folhas secas…

Mais nada se move em cima do papel.

quinta-feira, setembro 4

Sangrar


Puxo um cigarro. Quero que sejas a cinza [repleta de emoções e suspiros densos] que fumo beijando em todo este silêncio, onde procuro beber-te a voz, absorta!

Gostava de poder dilacerar cada pedaço teu, entre toques cegos, neste caminhar sem luz, rasgar o teu rosto, cada linha; o teu corpo, cada traço; o teu ser… devagar!

Que estas arestas que te [me] cercam, sejam espadas. Fazer o teu sangue [escarlate] saltar p’ra cima desta tela [cada vez em que és golpe na tua fuga!]. Fazê-lo gotejar sobre estas palavras. Quero sentir o seu odor a sair pelos sulcos da alma, difundindo-se em todo este quadrado em que somos folhas despedaçadas!

Sim, uma gota de sangue tua por cima dum verso era o mínimo que eu gostava agora! Sei-o e confesso que o desejo!

E as asas que me deste, corta-mas já!