domingo, maio 31

Aquele dia...



Prostrada, indefesa, odiosa fiquei eu naquele dia. São máculas que ficam para sempre na nossa eterna vivência.


Vem-me aos olhos os crisântemos que vestiam... aquele dia.

Era de fundo o choro em surdina.

Olhares de espanto, medo e dor. Não havia nada para dizer.

Foram lentos os minutos quando chegou aquele instante...

Cruel,

absoluto,

definitivo.

O derradeiro momento.

Desde então odeio crisântemos.

Vão balões...



Vago, indecifrável… assim és.

Tu não vens dos pontos cardeais.

Não és de se tocar.

Tenho-te frágil, preso por uma imagem.

Depois desapareces...
Como balões de criança em dias de festa.

terça-feira, maio 19

Esquecimento


Hoje apercebi-me de uma coisa: que tudo isto é vão.
Uma ilusão suportada pelas labaredas da alma.
Louca de mim não ter percebido isto antes.

Soltar verde a palavra pelo impulso da paixão é de tal inconsciência, que hoje me condeno.
E não é a guerra que agora me provocas que me faz lembrar-te vivamente, nem o meu amor, pois este, talvez, nem exista. É sim, o teu esquecimento. Ele é que te evoca em tais horas e me prende em momentos como estes. O teu esquecimento.

Fui só e apenas mais uma carta do teu vasto e variado baralho.
E não é isso que me magoa, hoje nada me magoa…
Só alimenta o luto que guardo de ti.
E, espero, já esquecida...


... que fique por aqui.

sexta-feira, maio 8

Indefinição



Aparência,

transparência,

um pensamento e alguém.


Vozes do dia,

murmúrios da noite.


Passos

apressados

sem saber ninguém.

sábado, maio 2

'Autumn Leaves'


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.